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Betaterapia: uma técnica que revolucionou os cuidados com a cicatrização pós-cirúrgica

Procedimentos cada vez menos invasivos e técnicas que permitem incisões menores vêm sendo adotados nas mais diversas especialidades médicas, revolucionando tratamentos de doenças e estéticos.  E quem ganha é o paciente, já que a recuperação é menos dolorosa e mais rápida.

Na radioterapia, por exemplo, uma das técnicas que vem sendo utilizada com sucesso para evitar queloides e cicatrizes no pós-operatório é a betaterapia.  É indicada para pacientes encaminhados por cirurgiões plásticos e oftalmologistas.

Por meio da betaterapia, mulheres que passam por uma cesariana e pessoas que se submetem a uma lipoaspiração, por exemplo, conseguem uma restituição perfeita do tecido da pele em 97% dos casos.  O tratamento é realizado com um aparelho de fonte radioativa, de estrôncio, que emite partículas beta na camada da pele, onde estão as células responsáveis pela formação de cicatrizes.

Betaterapia no tratamento de pterígio.

Uma placa de 1,5 cm é colocada em contato com a área afetada. As sessões, ao todo dez, são realizadas com intervalos de 24 horas e o tempo dispensado depende do tamanho da cicatriz. Cada aplicação dura mais ou menos 10 segundos.

O procedimento é simples, indolor, não traz nenhum risco ao paciente e pode ser aplicado em qualquer região do corpo.  A radiação só penetra na pele e, por isso, até crianças que se submetem à cirurgia plástica por causa de queimaduras podem fazer este tipo de tratamento.

Para alcançar os resultados esperados, a betaterapia deve ser iniciada até 48 horas após a cirurgia. De nada adianta aplicar a técnica sobre um queloide já formado. Nesse caso, há outras alternativas que podem amenizar o problema.

Clinicamente, o queloide surge durante o processo de cicatrização, após uma cirurgia ou um corte mais profundo na pele. Mostra-se como um inchaço endurecido, róseo, com coceira, por vezes doloroso, localizado na região onde foi realizada a incisão cirúrgica.

Esse tipo de cicatriz pode ocorrer em qualquer lugar do corpo, como nos lóbulos da orelha, ombros, região peitoral e tronco superior, mas raramente se desenvolve nas mãos, pés, axilas ou couro cabeludo.

Num mesmo indivíduo, um ferimento localizado na mão pode não desenvolver o queloide, enquanto que no abdome ele pode aparecer de forma bem intensa. Isso é causado devido às características da pele de cada região do corpo, como espessura, pigmentação, quantidade de colágeno, presença de glândulas e pelos, entre outras.

Para controlar a manifestação desse problema é fundamental que o paciente, quando for submetido a algum procedimento cirúrgico, informe se há histórico familiar ou pessoal de queloide.  Negros e mestiços, devido a uma predisposição genética, têm uma tendência maior de apresentarem queloide.

Mas o queloide pode aparecer em todas as raças após cirurgias, queimaduras e outros machucados. Assim, é impossível o médico prever se a cirurgia formará uma cicatriz de grandes proporções, mesmo em paciente predisposto.

A betaterapia também é adotada após a cirurgia para a retirada de pterígeo, uma doença nos olhos que tem como principal característica o crescimento sobre a córnea de um tecido fibromuscular esbranquiçado.

Se alcançar e cobrir a pupila, a pessoa deixará de enxergar com o olho afetado, sendo necessária a intervenção cirúrgica. A utilização desta radiação no pós-operatório tem o objetivo de reduzir a revascularização e contribui para que este procedimento seja bem-sucedido.

Sem dúvida, a betaterapia é um procedimento que revolucionou a prevenção de cicatrizes pós-cirúrgicas, oferecendo mais segurança aos pacientes.

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Nivaldo Kiister

Médico rádio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória