A descoberta de um câncer de mama transformou a vida da pedagoga Priscyla Mara de Assunção Soares Machado, de Linhares. Ao voltar de uma palestra durante o Outubro Rosa de 2017, decidiu fazer o autoexame e percebeu um caroço no seio direito. A partir daí, ela não apenas iniciou sua jornada para vencer a doença como ao longo desse percurso ajudou a inspirar mais de mil mulheres no Espírito Santo, que participaram de suas palestras sobre autoestima e prevenção.
Priscyla tinha 38 anos quando recebeu o diagnóstico. Seu tratamento, que incluiu quimioterapia, cirurgia e radioterapia, teve início em 2018 e terminou no ano passado.
Enquanto cuidava da saúde, a pedagoga, que é batista e casada com o pastor Francismichael Silva Machado, resolveu falar sobre o assunto pela primeira vez num congresso de mulheres da igreja. Foi um sucesso, o que rendeu outros convites para palestras sobre câncer de mama também fora da igreja não apenas em Linhares, como em Sooretama e Colatina.
“Quando a gente descobre a doença, é como receber um atestado de óbito, faltando apenas colocar a data. Só que a gente começa a se apegar a casos que deram certo. Tenho ligação com a igreja. A gente passa a confiar que vai dar tudo certo. Comigo foi assim. Quando recebi o diagnóstico, meus filhos tinham 2 e 5 anos. Não escondi a doença deles, dizia a eles que tinha um dodói muito grave dentro da mamãe. Eles me ajudaram muito a ter força para seguir com o tratamento”, conta Priscyla, hoje com 40 anos.
Até mesmo quando os cabelos começaram a cair, Priscyla teve o marido e as crianças por perto na hora de raspar a cabeça. Esse suporte foi fundamental para a autoestima da pedagoga, que passou a usar lenços. “Meus meninos diziam que eu estava linda, que tinham amado a minha careca.”
Com a pandemia, Priscyla teve que parar de dar palestras presenciais, mas realizou uma live recentemente, mostrando que mesmo de forma on-line é possível fazer a informação chegar a quem precisa. A pedagoga ainda tem o hábito de ligar para pacientes que estão em tratamento, para levar o conforto psicológico que o momento exige. “Os casos que chegam até a mim, faço questão de ligar, de ajudar, de fazer esse trabalho psicológico. Eu senti essa dor que a pessoa está vivendo. E quando a ajuda vem se uma pessoa que já passou por isso, há a identificação e revigora”, conta Priscyla.
No Instituto de Radioterapia Vitória (IRV) foram 18 sessões de tratamento realizadas com sucesso. De lá para cá, Priscyla segue seus cuidados com medicação oral (toma Anastrozol) e realiza exames periódicos. No mês passado, ela foi submetida à cirurgia de reconstrução da mama, que tinha sido adiada por conta da pandemia. Ao olhar para trás, a pedagoga diz que a doença trouxe para ela uma oportunidade de aprendizado.
“Valeu a pena. Doeu muito, muitas coisas mudaram, muitas coisas deixaram de acontecer por causa do tratamento, mas eu falo que tudo que eu aprendi é maior”, afirma Priscyla.
Prevenção anual
O radio-oncologista Carlos Rebello, diretor clínico do IRV, destaca a importância do autoexame das mamas e da mamografia. “A gente sabe que o câncer de mama é o tumor de maior incidência no sexo feminino. O autoexame vem nos ajudar muito porque com ele a gente consegue detectar um nódulo na fase inicial. Claro que há outros fatores, mas ele é muito importante para identificar lesões de menor volume. Ainda assim é preciso fazer mamografia: essa sim nos fornece o diagnóstico precoce. Ela deve ser feita nas pacientes acima de 40 anos de forma anual. E naquelas pacientes que têm histórico familiar de tumor de mama, a recomendação é fazer acima dos 30 anos”, afirma o médico.
Carlos Rebello reforça a importância da mulher conhecer o próprio corpo e fazer os exames de rotina.
“É importante a mulher se conhecer e fazer os exames anuais com seu ginecologista. Eles ajudam a descobrir tumores precoces que poderão ser tratados com maior chance de sucesso”, afirma o médico.