A infecção causada pelo papilomavírus (HPV) tem contribuído, nos últimos anos, para o aumento da incidência do câncer de orofaringe (parte da garganta localizada atrás da boca) entre pessoas mais jovens. O vírus pode ser transmitido para a boca por meio de sexo oral ou até pelo beijo, explica o rádio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV), Carlos de Freitas Rebello.
De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) são cerca de 41 mil novos casos anualmente. Segundo Rebello, o perfil do paciente que é acometido pela doença mudou. Antes tumores de boca e da orofaringe afetavam homens acima de 50 anos, tabagistas ou alcoólatras. Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 44 anos), tanto homens quanto mulheres que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
“Mesmo que o cigarro e o álcool ainda sejam suas principais causas, eles costumam exigir uma exposição prolongada para o desenvolvimento de um tumor – entre 15 e 30 anos de consumo. Já o câncer causado pelo HPV se desenvolve em menos tempo”, explicou Carlos Rebello.
Por isso, Rebello destaca a importância da vacinação contra o HPV nos adolescentes. Quem já foi fumante, também deve ficar alerta. “Um paciente que fumou durante algum tempo fica com uma sequela. Mesmo após algum tempo, a doença pode acontecer. Os tumores aparecem, principalmente, na boca, faringe e laringe”, disse Carlos Rebello.
Julho Verde
O dia 27 de julho foi definido como o Dia Mundial do Câncer de Cabeça e Pescoço no congresso mundial da especialidade, realizado em 2014, pela Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço e a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Durante este mês é realizada a campanha “Julho Verde” como alerta para a importância dos exames preventivos, que, no caso de diagnóstico precoce, pode dar chances de cura superiores a 80%.
“O diagnóstico precoce e o rápido início do tratamento são fundamentais para a cura do câncer de cabeça e pescoço. Um dos principais problemas para o tratamento é o diagnóstico tardio, que ocorre em 60% dos casos, deixando sequelas no paciente”, explicou Carlos Rebello.
As áreas mais frequentemente afetadas pelo câncer de cabeça e pescoço são tireoide, laringe, orofaringe e língua, mas todos os tecidos da região podem ser acometidos, como nasofaringe, hipofaringe, lábios, glândulas salivares, seios nasais e palato.
Os sintomas podem variar de acordo com o órgão afetado. Na laringe, por exemplo, a pessoa pode apresentar rouquidão persistente, dor ao engolir, dificuldade para respirar e caroço no pescoço. Na língua podem surgir manchas ou feridas, dor e dificuldade de mobilizar a língua. Já o câncer de tireoide pode apresentar sintomas como nódulo no pescoço, rouquidão, inchaço da parte anterior do pescoço, tosse, dificuldade de engolir ou respirar.
Segundo Carlos Rebello, ao perceber feridas na língua, na boca ou na garganta, caroço no pescoço e rouquidão que persistem por mais de três semanas, é preciso procurar rapidamente um médico especialista, pois se descoberto no início, o tumor de cabeça e pescoço tem cura.